O INÍCIO DO CAMINHO NA AMAMENTAÇÃO

O INÍCIO DO CAMINHO NA AMAMENTAÇÃO

A AMAMENTAÇÃO DE UM BEBÉ RECÉM-NASCIDO: O QUE É EXPECTÁVEL PARA A PRIMEIRA SEMANA DE PÓS-PARTO?

A primeira semana com um bebé recém-nascido nos braços após a alta da maternidade pode ser tanto de excitante como de assustadora, já para não falar de ser muito cansativa, principalmente se for a tua primeira experiência de amamentação. É verdade que hoje em dia a vida está um pouco facilitada porque os bebés já nascem com características anatómicas próprias e com os reflexos de amamentação necessários, mas nem tudo é tão simples como parece! E como se não bastasse as tuas hormonas já estarem incontroláveis desde a gravidez, enquanto ainda tentas recuperar do parto sentes o duplo “choque” da descida do leite (a partir do terceiro dia) e da nostalgia desconcertante de um bebé totalmente dependente de ti para tudo. A esta combinação explosiva de emoções fortes juntam-se a expectativa alta e a pressão gigante de seres a melhor mãe do mundo a partir de agora, mas a tarefa mais importante que deves desempenhar nesta primeira semana mais desafiante é, sem dúvida alguma, dedicares-te com a qualidade possível ao teu bebé e, claro, à amamentação. E eu vou ajudar-te a começares da melhor maneira possível, com alguns conselhos mais práticos… Preparada para começar?

“O QUE SIGNIFICA AMAMENTAR UM BEBÉ EM EXCLUSIVO?”

Sabemos que o aleitamento materno é fundamental para a saúde de todos os bebés e igualmente importante para a saúde das mães. O leite materno é o melhor alimento para todas as crianças e é especialmente valioso para bebés de baixo peso ao nascer ou doentes, sejam eles de termo ou não. A Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) recomendam que as mães, a nível global, amamentem exclusivamente os seus bebés durante os primeiros seis meses de vida com vista a conseguirem um crescimento, desenvolvimento e saúde ideais. Por conseguinte, devem receber alimentação complementar adequada e continuar a amamentar até aos dois anos ou mais. Portanto, amamentar em exclusivo implica não oferecer ao bebé qualquer outro alimento ou bebida além do leite materno (mesmo água ou chá), à exceção de medicamentos e gotas de vitaminas ou minerais desde que previamente prescritos. Além disso, também é permitido todo o leite materno extraído desde que não seja oferecido ao bebé por via de biberões e tetinas artificiais.

“QUANDO POSSO COMEÇAR A AMAMENTAR O MEU BEBÉ?”

Idealmente, a melhor altura para começares a amamentar o teu bebé é logo na primeira hora após o parto, independentemente de ser vaginal ou cesariana sob anestesia epidural: o bebé deve ser colocado em contacto pele com pele sobre as tuas mamas imediatamente após o parto para ter livre acesso ao primeiro leite materno (o colostro) e iniciar então a sua primeira amamentação assim que esteja preparado (é claro que ele pode ou não mamar mas temos que lhe dar essa oportunidade para o fazer). Este momento é muito importante para o próprio bebé encontrar o seu próprio caminho até à mama, mesmo que demore mais algum tempo. Mas, assim que ele abocanhar uma das mama e começar a sugar ritmadamente, as tuas células mamárias começam a mudar para iniciarem a verdadeira produção de leite materno. Não é por acaso que a esta primeira hora se dá o nome de hora mágica (“golden hour”)… Portanto, desde que o parto decorra sem intercorrências, o teu bebé não precisa logo de ser lavado, pesado, medido ou vestido com as primeiras roupas nesta primeira hora tão especial (ou, pelo menos, até depois da primeira sessão de amamentação). Devem (mãe e bebé) simplesmente desfrutar deste momento com muito contacto pele com pele nua para fazer fluir a ocitocina (a chamada “hormona do amor”) em ambos, que é tão essencial para a libertação do teu primeiro leite. Além disso, a ocitocina também te vai ajudar a recuperar do parto enquanto amamentas, pois faz com que o teu útero se contraia nas primeiras horas (ajudando a expulsar naturalmente a placenta e reduzindo as perdas excessivas de sangue).

“E SE O PARTO NÃO CORRER COMO PREVISTO?”

Mais importante do que aprenderes a amamentar o teu bebé, é saberes como manter a lactação (ou seja, a produção de leite) antes da alta da maternidade, principalmente se ambos forem separados após o parto por qualquer circunstância. Excecionalmente a existirem complicações imprevistas, em caso de cesariana sob anestesia epidural o teu bebé pode ser colocado em contacto pele com pele imediatamente após o momento do nascimento e a amamentação pode começar nas primeiras horas quando ambos estiverem preparados, para que ele consiga obter todo o colostro disponível nas tuas mamas. Agora, em caso de cesariana sob anestesia geral o contacto pele com pele só deve começar quando estiveres consciente e alerta (habitualmente nas primeiras 4 a 6 horas). Em qualquer situação onde não possas agarrar o teu bebé com segurança, a alternativa mais recomendada é promover o contacto pele com pele imediato no colo da pessoa por quem estás acompanhada, para acolhermos o bebé até estares totalmente preparada. Por outro lado, caso o teu bebé não consiga mamar por alguma razão, deves começar a extrair leite com a maior brevidade possível até ele conseguir alimentar-se diretamente das mamas. Portanto, além do posicionamento e da pega, nesta fase é essencial iniciares a tua produção de leite nas primeiras 6 horas após o parto através da extração manual. A quantidade não será muita mas é tudo o que o teu bebé precisa e deve ser oferecido por métodos de alimentação alternativos que não biberões ou tetinas artificiais. Isto é particularmente importante quando o bebé é prematuro e/ou de baixo peso ou quando está doente, porque o teu leite é o melhor alimento (e o mais completo) que ele pode receber, principalmente nas primeiras horas.

“COMO SABER SE O MEU BEBÉ AGARRA BEM A MAMA?

Uma pega correta é determinante para o bom início da amamentação, pois a forma como o bebé agarra na mama afeta também a forma como ele ingere o leite e, por conseguinte, a forma como cresce e se desenvolve. Basicamente, para remover o leite de forma eficiente é necessário que o bebé agarre a mama com a boca e sugue de forma correta (vais perceber que o bebé não suga o leite como se bebesse por uma palhinha). Uma má pega pode provocar mamilos dolorosos ou mesmo gretas e fissuras, por isso é importante que peças ajuda a uma profissional de amamentação, idealmente na gravidez ou no pós-parto imediato. Quando o teu bebé estiver a tentar agarrar a mama, deves orientar o mamilo para o céu da boca, para que desta forma ele consiga abocanhar o mamilo e parte da aréola (os maiores canais de leite estão aqui incluídos). Isto significa que, para mamar, o bebé “estica” a mama para formar uma espécie de tetina (através da sucção) e segura grande parte do tecido mamário na sua boca. Só para teres uma ideia, o mamilo forma apenas 1/3 dessa tetina porque o bebé está a mamar na mama e nunca apenas no mamilo (muito importante). Quando um bebé pega na mama com a sua boca desta forma e consegue remover o leite materno com facilidade, dizemos que a amamentação é eficaz (o que significa que ele está bem adaptado à mama e com boa pega). Quando o teu bebé faz uma boa pega, o momento deve ser confortável para ti, com uma ligeira sensação de pequeno puxão e não uma sensação de dor permanente. O bebé deve ter sempre a boca bem aberta, o nariz totalmente livre, o queixo encostado na mama pela aréola e o lábio inferior ligeiramente revirado para fora. Esta “linguagem corporal”, juntamente com outros sinais, mostra-nos que a amamentação está a correr bem.

“COM QUE FREQUÊNCIA DEVE MAMAR O MEU BEBÉ?

Tanto a frequência como a duração das mamadas são muito variáveis durante a primeira semana de vida. Aliás, as primeiras 24 horas são diferentes para cada bebé, alguns têm um sono longo enquanto outros mamam com mais frequência. Esta variabilidade é uma das coisas mais intensas e cansativas para as novas mamãs, mas é importante lembrar que todas (assim como todos os bebés) são diferentes entre si. Sobre o colostro (o primeiro leite materno e o mais especial) é um leite mais espesso do que o leite maduro e é produzido em quantidades mais pequenas (às vezes até mesmo durante a gravidez) mas está repleto de benefícios para o bebé, principalmente a nível da imunidade. Além das suas propriedades especiais, a ingestão do colostro ajuda o teu bebé a praticar a sucção e a deglutição em simultâneo com a respiração antes do leite começar a ser produzido em maiores quantidades. Só para teres noção, quando o leite descer (habitualmente ao terceiro dia mas pode variar), o teu bebé pode estar a mamar cerca de 8 a 12 vezes em 24 horas, incluindo durante a noite. Estas sessões de amamentação iniciais podem demorar entre um mínimo de 10 a 15 minutos até um máximo de 45 a 60 minutos, pois o bebé ainda está a desenvolver os músculos e a coordenação que são essenciais para uma sucção segura e eficaz.

“O MEU BEBÉ DEVE MAMAR SEMPRE A HORAS CERTAS?”

Para teu grande espanto, a resposta é NÃO! E a boa notícia de toda esta informação é que a frequência de amamentação que referi anteriormente vai ajudar-te a iniciar e a manter a tua produção de leite. Por isso, quanto mais o teu bebé mamar, mais leite vais produzir para ele. Então, não te deves preocupar muito com a questão das horas certas para amamentares, já que isso reduz substancialmente as oportunidades do teu bebé mamar em horário livre (a chamada “livre demanda”). Concentra-te apenas em amamentar o bebé quando ele demonstrar um ou todos os seguintes sinais de fome: começar a acordar, abrir os olhos, virar a cabeça quando sente algo na bochecha, abrir a boca, pôr a língua de fora (pode mesmo salivar), esboçar uns sons tipo grunhidos, agarrar o mamilo com os próprios dedos, sugar os lábios ou as próprias mãos, ficar agitado, começar a choramingar e/ou chorar. Atenção, o choro já é um sinal tardio de fome. Portanto, em caso de dúvida, oferece mama ao teu bebé porque nesta fase inicial em que ambos ainda estão a aprender, pode ser mais difícil amamentá-lo quando já está a chorar. Com o passar das semanas, é expectável que o bebé comece a mamar mais depressa e com mais ou menos frequência, portanto a amamentação começa a ser muito mais fácil de lidar ao fim de algum tempo.

“A AMAMENTAÇÃO É SUPOSTO DOER?”

Infelizmente, talvez já te tenham dito que a amamentação deve doer, mas não: a amamentação não dói, embora muitas mães considerem os primeiros dias desconfortáveis e mais sensíveis. Mas não é de estranhar, se pensares que os teus mamilos não estão habituados a toda a sucção forte e frequente de um bebé. Contudo, deves ter noção de que à medida que o teu corpo e o bebé vão treinando, a amamentação começa a ser muito mais confortável. Agora, se o bebé permanece demasiado tempo na mama e não faz uma boa pega (mesmo que te pareça correta), o resultado são mamilos dolorosos e com gretas ou fissuras. Portanto, a prevenção (para este tipo de situações) é a tua melhor amiga. Mas se a dor persistir durante os primeiros dias, é importante procurares ajuda especializada na amamentação. Também pode acontecer uma espécie de “dor pós-parto” durante as sessões de amamentação nos primeiros dias (principalmente se este não for o teu primeiro filho) porque a ocitocina libertada pela amamentação vai ajudar o teu útero a contrair-se mais, à medida que começa a voltar ao seu tamanho normal (o anterior à gravidez). Quando o teu leite desce, também é normal sentires as mamas mais cheias (e até maiores do que os primeiros dias), duras e sensíveis. Em princípio, se estiveres a fazer tudo bem como descrito até aqui, a amamentação frequente do teu bebé deve ajudar a aliviar a pressão.

“O MEU BEBÉ DEVE FAZER QUANTOS COCÓS E CHICHIS?”

Basicamente, o que entra tem de sair, certo? O colostro atua como laxante, facilitando o primeiro cocó do bebé (o chamado mecónio). À primeira vista pode ser alarmante porque é muito escuro e pegajoso como o alcatrão, mas não te preocupes porque as fraldas não vão ser sempre assim. Normalmente, o cocó dos bebés amamentados em exclusivo tem um cheiro inofensivo e ligeiramente adocicado. Para teres uma noção aproximada de quantas fraldas sujas deves esperar, quando e que aspeto devem ter: no primeiro dia a quantidade é de uma ou mais, a cor é preta ou esverdeada e a textura é pegajosa e parecida com alcatrão; no segundo dia a quantidade é de duas ou mais, a cor é castanho escuro esverdeado e textura é menos pegajosa; no terceiro dia a quantidade é de duas ou mais, a cor é entre castanho esverdeado a amarelo acastanhado e textura é ainda menos pegajosa; do quarto dia a um mês a quantidade é de duas ou mais, a cor é amarela (no máximo deve ser amarela no final do quarto dia) e textura é granulosa (tipo farrapos como uma mostarda inglesa), solta e aguada. Quanto ao chichi do bebé, deve ser amarelo claro e um recém-nascido faz chichi uma vez por cada dia de vida até ao sétimo, quando a quantidade não deve ser inferior a seis fraldas molhadas por dia (menos de seis é um sinal de alerta).

“COMO SABER SE O MEU BEBÉ ESTÁ A BEBER LEITE SUFICIENTE?”

É perfeitamente normal que fiques preocupada com esta questão da “suficiência” de leite nos primeiros dias, uma vez que apenas produzes pequenas quantidades e não sabes de forma direta se estarás a satisfazer o teu bebé. Claro que a mama não vai apitar quando a mamada termina, nem tu não vais receber uma notificação no telemóvel! É, então, através de sinais indiretos que o teu bebé e o teu corpo te dão, e este é o grande desafio da amamentação. Portanto, se estás a amamentar em livre demanda sem restrições de horários e frequência, em situações normais deves produzir todo o leite que o bebé necessita. A forma mais correta de “controlares” a ingestão do leite pelo teu bebé é através da quantidade de fraldas sujas e molhadas que ele produz. Se pensavas que a contabilização de leite materno era feita através da utilização de bombas de extração, lamento informar-te que não. O sucesso da amamentação é determinado por outros fatores. O bebé pode, ainda, bolsar uma espécie de vomitado (da cor do leite) depois de algumas (ou todas) as sessões de amamentação, mas isto não é motivo para grandes preocupações, desde que o peso se mantenha dentro dos valores esperados. Os principais sinais de alerta são estes: bolsado com farrapos laranja, vermelho, verde, castanho ou preto, ou vómito projetado. O mesmo se aplica se o bebé apresentar temperaturas corporais elevadas, sangue no cocó, fontanela (a zona mole na cabeça) encovada, ou se, ao fim da segunda semana, não tiver recuperado o peso que tinha à nascença. Em todo o caso, se não tiver nenhum destes sinais e estiver a atingir as suas metas de crescimento e desenvolvimento, então está a receber leite suficiente.

CONFIA EM TI E NO TEU CORPO, TU ÉS CAPAZ!

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